Os desenhos
apresentados aqui são os quatro elementos que compõe uma micro série produzida
entre maio e junho de 2017, batizada de Série Espelho, tal título em muito se
deve ao período em que ela foi produzida, um momento de certa adversidade que promoveu profunda reflexão, onde me propus a ficar diante do “espelho da
alma”, na busca de uma imagem interior mais profunda e essencial, tanto no
ofício de artista quanto como no ser humano, consequentemente acabei manifestando-a em criações visuais, bem como investigando a miríade de repercussões
que tal busca provocou (e pode vir a provocar) em minha vida
cotidiana, quem sabe assim criando um ciclo virtuoso de retroalimentação
entre vida e arte.
Um dos pontos cruciais
desta busca trata-se de tentar
enxergar a vida dentro de sua profunda e sutil linguagem simbólica, ainda que o
processo seja altamente subjetivo tento
demonstra-lo objetivamente nestes
desenhos, para tanto me valho de uma
linguagem visual simples e direta, monocromática, que tenta equilibrar
elementos abstratos e figurativos e principalmente recorre da utilização de
diversos elementos simbólicos, seja
individualmente ou em grupo.
A simplicidade das obras se justifica a medida que
facilita a interação com os mais diversos públicos, pois disposta em suporte
comuns (como papel impresso entre outros...) soam mais familiares que uma complexa instalação cheia de
parafernálias eletrônicas por exemplo, medida que creio ser importante também
para não distrair os sentidos e facilitar
a compreensão dos elementos simbólicos mais sutis e suas narrativas engendradas nos desenhos.
Ainda que o
resultado final das obras se aproxime de muitas linguagens contemporâneas,
creio ser fácil perceber o referencial
histórico que as ampara, partindo
do Art’Nouveau e passando pelo
Simbolismo , Surrealismo, Renascimento e
por fim tentando tocar as fontes
primevas e essenciais das tradições clássicas (Grécia , Roma, Egito e Índia
védica), ainda que neste momento meu processo criativo, e consequentemente
minhas obras, não alcancem a primazia de seus predecessores referenciais creio
ser de grande valia a busca de construir uma linguagem contemporânea que
reaproxime o público de elementos simbólicos mais profundos, cumprindo assim um
papel de certa forma pedagógico de refinar o olhar do expectador aos poucos,
provocando a reflexão pelo diálogo e não pelo impacto (visual).
Outro ponto interessante, que já usei com relativo
sucesso em séries anteriores, foi a criação de padrões modulares que se
encaixam a partir de um único elemento replicado ou elementos diversos entre
si, nesta série o desenho “Gráfico Evolutivo” apresenta
tal característica, o que permite uma composição com incontáveis elementos,
onde a restrição é somente o espaço disponível. O emprego de padrões como este
permite que o mesmo desenho seja aplicado
como arte ornamental por exemplo, através de azulejos, faixas
decorativas e papéis de parede entre outros, esta possibilidade faz com que estes desenhos se aproximem do
conceito de “arte total”, muito explorado pelo movimento Art’Nouveau (entre outros), onde
a interação com arte transcende o
objeto, podendo assim se fazer presente na arquitetura e no design de artefatos
cotidianos, considerados como meramente utilitários ou decorativos. Tal estratégia
é muito bem vista de minha parte, pois combate o caráter segregacionista que
arte contemporânea vem tomando, associando a qualidade da expressão
artística à complexidade (ou bizarrice)
da técnica e/ou suporte utilizados,
confinando a arte às galerias e museus
específicos, geralmente vistos pelo senso comum como um lugar para “iniciados”,
intelectuais e acadêmicos “profundamente
versados”, nesta ou naquela categoria.