domingo, 31 de dezembro de 2017

O FAROL, A ENXURRADA E O MAR...




Depois de quase quatro meses em silêncio volto aqui pra falar do que vivi e de tudo que aconteceu comigo, por que, como compôs Belchior e cantou Elis, viver é melhor que sonhar e eu sei que o amor é uma coisa boa... 

No último dia de 2017 celebro a rebeldia esperançosa, que me tomou nos últimos meses e mais que um novo endereço, me rendeu a certeza de que o único caminho é seguir pelo fluir da vida, o que nem sempre acontece como um riacho tranquilo, por vezes é preciso de uma enxurrada de caos, pedras e lama. Sufocado em meio a uma represa estagnada, que cada vez mais se parecia com um lodaçal viscoso e morto, transbordei minhas próprias margens e renasci num mar, mais limpo e livre, ainda que desconhecido e misterioso, sinto que aqui sim, o vento pode me levar até qualquer porto, em qualquer um dos quatro cantos do mundo.

Atento aos faróis de sabedoria sigo navegando, até mesmo em terra firme, honrando meu nome de descobridor.


Farol do Saber - Biblioteca Khalil Gibran - Curitiba PR




quinta-feira, 3 de agosto de 2017

SÉRIE ESPELHO


Os  desenhos apresentados aqui são os quatro elementos que compõe uma micro série produzida entre maio e junho de 2017, batizada de Série Espelho, tal título em muito se deve ao período em que ela foi produzida, um momento  de certa adversidade  que promoveu profunda reflexão, onde  me propus a ficar diante do “espelho da alma”, na busca de uma imagem interior mais profunda e essencial, tanto no ofício de artista quanto como no ser humano, consequentemente acabei manifestando-a em criações visuais, bem como investigando a miríade de  repercussões  que tal busca provocou (e pode vir a provocar) em minha vida cotidiana, quem sabe assim criando um ciclo virtuoso de retroalimentação entre  vida e arte.

Um dos pontos cruciais  desta busca trata-se  de tentar enxergar a vida dentro de sua profunda e sutil linguagem simbólica, ainda que o processo seja altamente subjetivo tento  demonstra-lo objetivamente  nestes desenhos,  para tanto me valho de uma linguagem visual simples e direta, monocromática, que tenta equilibrar elementos abstratos e figurativos e principalmente recorre da utilização de diversos elementos simbólicos,  seja individualmente ou em grupo.
A simplicidade das obras se justifica a medida que facilita a interação com os mais diversos públicos, pois disposta em suporte comuns (como papel impresso entre outros...) soam mais familiares que  uma complexa instalação cheia de parafernálias eletrônicas por exemplo, medida que creio ser importante também para não distrair os sentidos e facilitar  a compreensão dos elementos simbólicos mais sutis e  suas narrativas engendradas nos desenhos.


Ainda que  o resultado final das obras se aproxime de muitas linguagens contemporâneas, creio ser fácil perceber o referencial  histórico que as ampara, partindo  do Art’Nouveau e passando pelo Simbolismo , Surrealismo, Renascimento  e por fim  tentando tocar as fontes primevas e essenciais das tradições clássicas (Grécia , Roma, Egito e Índia védica), ainda que neste momento meu processo criativo, e consequentemente minhas obras, não alcancem a primazia de seus predecessores referenciais creio ser de grande valia a busca de construir uma linguagem contemporânea que reaproxime o público de elementos simbólicos mais profundos, cumprindo assim um papel de certa forma pedagógico de refinar o olhar do expectador aos poucos, provocando a reflexão pelo diálogo e não pelo impacto (visual).


Outro ponto interessante, que já usei com relativo sucesso em séries anteriores, foi a criação de padrões modulares que se encaixam a partir de um único elemento replicado ou elementos diversos entre si,  nesta  série o desenho “Gráfico Evolutivo” apresenta tal característica, o que permite uma composição com incontáveis elementos, onde a restrição é somente o espaço disponível. O emprego de padrões como este permite que o mesmo desenho seja aplicado  como arte ornamental por exemplo, através de azulejos, faixas decorativas e papéis de parede entre outros, esta possibilidade  faz com que estes desenhos se aproximem do conceito de “arte total”, muito explorado pelo movimento Art’Nouveau (entre outros), onde a interação  com arte transcende o objeto, podendo assim se fazer presente na arquitetura e no design de artefatos cotidianos, considerados como meramente utilitários ou decorativos. Tal estratégia é muito bem vista de minha parte, pois combate o caráter segregacionista que arte contemporânea vem tomando, associando a qualidade da expressão artística  à complexidade (ou bizarrice) da técnica e/ou suporte  utilizados, confinando  a arte às galerias e museus específicos, geralmente vistos pelo senso comum como um lugar para “iniciados”, intelectuais  e acadêmicos “profundamente versados”, nesta ou naquela categoria.



quarta-feira, 28 de junho de 2017

sexta-feira, 9 de junho de 2017

PARTITURA ORNITOLÓGICA


Não sei quem rege a sinfonia dos pássaros, mas sei que o encanto de tantos que cantam ao mesmo tempo não são em vão, ao menos à minha busca eles servem de alento.




vista geral do painel, abaixo os elementos são mostrados individualmente.






SEMENTINHAS... BROTANDO...


 Nestes dias frios de desesperança algumas semente começaram a brotar, ainda falta muito para as desabrocharem as flores solares, mas ao menos esses brotos despontam como estrelas em meio a uma noite nublada.
 E mesmo que ao amanhecer o sol se envolva em um véu de nuvens e pela tarde a chuva e o vento levem as pétalas da roseira, as estrelas ainda vão tilintar suas esperanças, como uma debutante envergonhada, feliz, encabulada sim, mas ainda assim muito feliz...

 Em meio a cenas como essa renovo minhas esperanças, tremeluzentes e ainda semi-cobertas, tal qual as estrelas da noite invernal, mas um bom sinal foi resgatar um velho hábito que me era (e ainda é) muito querido, o de rabiscar e colorir pequenos pedaços de papel, aleatórios e livres, com os fragmentos de boas lembranças, como o capim alto na beira da estrada de terra, as flores que minha tia cultivava na varanda, o raro e belo beijo do beija-flor no fim de tarde, numa luz que fazia arder ainda mais o azul-lilas de suas asas.










sexta-feira, 26 de maio de 2017

COMUM, COMO EU VOCÊ E QUALQUER UM...

Atenção!   O texto abaixo contem ironia, linguagem simbólica e referencias históricas, não recomendado a pessoas sem capacidade de contextualização e interpretação textual, grato pela compreensão.

Comum, como pão na chapa e café preto, como bolacha Maria esquecida no armário.

 Acredito haver um grande trunfo próprio ao ser comum (comum enquanto comunal, semelhante, equivalente a muitos outros...), não sei se isso vale para todo mundo, até porque nem tudo tem o mesmo valor no mundo todo, o fato é que experimento há muito tempo esta recorrente impressão e agora, depois de muita reflexão, vejo esta característica como uma considerável potencia. O ser comum parece prescindir do peso atlântico de ser extraordinário, não há sobre ele muitas expectativas ou cobranças, logo poucas frustrações, alem disso goza de certa liberdade ao criar qualquer coisa que queira, sem a amarração de excessivos olhares e interesses externos, projetando ao seu redor o cenário ideal para usar o efeito surpresa contra pré-julgamentos e pré-conceitos, nesta estratégia desarma facilmente os mais raivosos dedos indicadores.

 O comum parece revestido de uma aura de equilíbrio, desta feita, por não aparentar ser de todo santo ou facínora permite que todos os demais com ele se identifiquem, ao menos um pouco, com alguma afeição discreta, sem ojeriza ou adoração. Parelho a tantos outros, em tantos sentidos, talvez não caiba ao comum uma retenção sob hierarquias rígidas, pois à medida que a coroa não se firma sobre sua cabeça tampouco os grilhões lhe prendem os pés. Levando em consideração que a nobreza é em si mesma uma distinção o comum não pode usa-la para subjugar outros indivíduos, do mesmo modo não permite que o subjuguem, afinal como assemelhado a tantos pelo mundo não há justificativa para sua inferioridade, em suma tanto a servidão quanto a nobreza sustentam-se sobre noções tortas de segregação e hierarquias supostamente incontestáveis,ambas exóticas aos comuns. É valida a ilustração, a fim de reforço, onde se vê  que rei sem coroa é cidadão sujeito à lei, onde senhor de escravos sem cativos é mero criminoso, as distinções que mascaram estes personagens subjazem a sutis convenções sociais, aceitas coletivamente, em geral, de maneira inconsciente e simplória.

 Ainda que pareça fácil e tediosa a vida do ser comum, quando revistada mais minuciosamente, se revela uma aventura diária, onde tanto luta quanto se esquiva, seja dos banais ou dos soberbos, mesmo saltando armadilhas deixa-se fluir pelo passeio, seguindo com palavras assertivas e sorrisos comedidos, sem se prender ou sair em disparada, sobe sem estafa a uma colina segura, avistando do alto os extremados que se engalfinham nos mangues e várzeas. Passada a batalha, o comum é quem socorre os feridos, consola os enlutados, de ambos os lados sem olhar patentes, insígnias ou penachos, sereno sob o manto do silencio vive a glória do herói anônimo, do construtor operativo ,que virtuoso em sua simplicidade, promove a paz sem jamais sujar-se na guerra ignominiosa.  

segunda-feira, 22 de maio de 2017

A ILHA REFÚGIO

Exilados nas águas incertas do cotidiano, finalmente, encontramos um refúgio, uma ilha, brotando firme sobre o mar dos extremos, ainda que desabitada é ao menos habitável, um lugar para descansar os olhos e os braços, que diferente das ilhas de Böklin não se chega a ela depois da morte, ela está dentro de nós, hoje e enquanto houver vida.


A ilha refúgio, Lápis-cera sobre tecido, 138cm X 62cm, 2017


Obs: A tela está à venda, para consulta de valores e forma de pagamento entre em contato pelo e-mail: planoecurva@gmail.com

terça-feira, 28 de março de 2017

VOCÊ JÁ USOU A SUA BOCA HOJE?


Boca suja


Boca suja
Que fala e reclama, grita, apanha
Chora e sangra, mas não cala!

Boca suja
Que beija, chupa e lambe
O anel, os lábios e a glande

Boca suja
Que ébria ou sóbria, sonha sempre
Apesar dos falsos messias e suas cobras.

Boca suja
Que só a trégua já não satisfaz
Ferida por tanta guerra, quer é paz!

Boca suja
Que devagarzinho, quer erguer bela casa
Um ninho, para passarinho, sem asa.

Boca suja
Que tanto canta, quanto silencia
Emudecendo o barulhento em sua melodia.

Boca suja
Que trabalha!E muito rala na labuta
Útil ao deputado tanto quanto para a puta.

Boca suja
Que quando quer fica limpinha!
Como uma boca solene, distinta e de bem

Que um dia pode ser sua, noutro minha também.




domingo, 19 de fevereiro de 2017

REFLEXÃO EM ESCRITA SEMI-AUTOMÁTICA

 Alegre é a loucura irônica em meio a falta de sentido, em meio a dramas auto-impostos de solução já sabida, parecendo-me melhor dramatizar até a ficar grotesco do que aceitar aquela que me parece a única saída, bem pior que a morte, é erguer um monumento ao fracasso com minha separação. Mais honrado, talvez, seja esgotar tanto as esperanças quanto as alternativas, olhar de frente o temível e destruidor desconhecido, num primeiro encontro, que por mais doloroso que seja, espero que venha logo, enquanto os dias de agonia se derramam em um lamaçal de incertezas só consigo pensar que alívio do fim de ciclo seja a mais aprazível das certezas, quero pra logo esse marco simbólico, uma data pra lembrar, de quando esse sonho real e datado finalmente terminou, quero poder berrar!  Morreu! Acabou! Pior que qualquer perda é zumbido que a anuncia, pior que a bala é o estampido, naquele meio segundo que você espera pra ser atingido, ainda tenham lhe errado como alvo.
 Que meu existir se exploda, e exploda agora! Já! Estou exausto de existir nesse meio moribundo de ressuscitações intermináveis, esse meu bioma psico-sócio-existencial tem que morrer, o chão que eu piso é uma areia molhada e estéril, clamando por algum cadáver qualquer que lhe sirva de adubo. 
 O que eu mais quero saber é como fazer para que essa morte, benfazeja e inevitável, ocorra com menos dor e fausto possível, lágrimas e gritos não ajudarão ao corpo apodrecente adubar a nova vida, lamentos são inúteis e idiotas, quero só um pouco de raro silencio compreensivo, não de todo complacente é claro mas ao menos respeitoso, por um tempo breve. 
 Quero viver, se a assim a lógica abstrata da natureza quiser, por isso é imperativo deixar morrer, sem dó, que só serve como nota em musica, pra além disso é uma baita desnecissadade burra. 
Morrer e renascer, já!

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

BELEZA FRÁGIL






A beleza é frágil
Um estado instável
Que se esvai
Pelos olhos vãos
De quem não quer ver

Assim ela fenece
Para depois renascer
Não se sabe onde
Talvez numa bela vista
Frente a retinas menos vis


domingo, 15 de janeiro de 2017

O AFAGO


Dessa vez sem "textão", somente uma pequena amostra do teste de novas técnicas e materiais, neste caso, lápis aquarela sobre tecido com acabamento em caneta hidrocor e tinta de tecido.

Ps: Vem muito mais coisas boas por aí!



terça-feira, 3 de janeiro de 2017

AQUARELAS DA MEMÓRIA

Quando cheguei à faculdade descobri, que diferente da musica do Toquinho, não dá pra fazer um castelo com cinco ou seis retas, o que compensou a frustração foi saber dos muitos castelos que existem por aí, todos com suas infinitas retas e curvas, dignos de continuar existindo e nos inspirando.
A preservação de todo patrimônio cultural material é necessária à medida que nos obriga a pensar, a conviver com as diferenças, a saltar da banalidade de nosso cotidiano e vagar pela infinitude do tempo, num impagável passeio guiado pelos passos largos de Crhonos.
Em meio a esses devaneios pintei essas aquarelas, como fragmentos de lembranças infantis, coloridas e despretensiosas, sem tanto rigor  mas com muita emoção, singelos recortes de arquiteturas imaginárias, memórias sugeridas para que cada um evoque as suas...