sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

REFLEXÃO...

Mais uma vez, no meio da repercussão de tantas tragédias ficou impossível não assumir uma postura reflexiva, o que tem me ajudado a avistar alguns cais de esperança nesse mar de lama e sangue que corre mundo afora. Tomando como ponto de partida meus humildes conhecimentos na história do Brasil e do mundo é fácil perceber a nossa tendência da centralização de soluções, onde os problemas existem para todos, mas quem deve resolver é o governo (presidente ou presidenta...), as autoridades, os especialistas, sempre os outros, em ultima instância as deidades (Deus, Oxalá, Buda, Alá...), se não por milagres estes entes superiores devem nos dar suas formulas mágicas perfeitas, a formula do amor, do sucesso ou qualquer mandinga que leve ao extermínio da fome, da celulite, da intolerância e da calvície.
Essa tendência (não vou entrar no mérito de sua origem!) nos leva a uma mania de viver em escolhas binárias e/ou cegamente limitadas, fragmentarias e egoístas, onde não importa do que se trate, "sempre" haverá alguém X ou a solução Y que resolverá tudo, basta escolher a opção certa (apertar um botão,votar,curtir,rezar...) e pronto, a magia será feita e sem esforço, todos viveremos num interminável e feliz comercial de margarina.
Enquanto não abandonarmos as escolhas binárias, os problemas humanos (objetivos ou subjetivos) nunca terão fim. Não há um salvador perfeito, não há uma formula infalível, cada indivíduo consciente (o tempo todo) é parte dessa tal "solução universal", nós somos a sociedade, os sistemas políticos e econômicos e parte do divino também, e talvez só a junção profunda de toda essa grandeza e diversidade produzam alguma saída, tão grande e diversa quanto nossos obstáculos à evolução, basicamente, para se alcançar isso basta não atentar mais ao que nos estratifica e distancia e focar no que nos une, o simples fato que somos todos humanos, possuidores dos mesmos direitos, eu,você e o outros (que para eles somos eu e você...), portanto mãos à obra e pé na estrada!

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

AS OUTRAS FACES E TRAÇOS

 Eu desenho, desde que me entendo por gente, e talvez já antes disso... Algumas das minhas lembranças mais antigas são de desenhos que fiz, como quando eu desenhava carros, flores, meninas e espadas com giz no chão de cimento esverdeado, que ficava na área de serviço nos fundos da casa de meus pais, me lembro também quando destrocei um batom da minha irmã enquanto desenhava usando-o como um lápis de cera diferente, nesse caso meu corpo e roupas serviram como tela, pintei traços grossos daquele vermelho tão forte e brilhante dos meus pés a cabeça, deixei manchas em minha bermuda jeans que levaram minha mãe à loucura, e as marcas que ficaram daquela expressão tão inocente quanto anárquica nem ela (e nem ninguém...) conseguiu apagar.
 Hoje tento me reconectar com a fluidez e liberdade daqueles tempos pueris, e sigo rabiscando constantemente qualquer interessante espaço em branco que me passe pelas mãos, talvez numa tentativa de redesenhar o mundo e a mim mesmo... Quem sabe um dia eu consigo!
 O meu acervo é bem diverso e para que se tenha uma ideia do caminho que meus rabiscos tomaram, deixo esta pequena amostra, de diferentes técnicas em ordem cronológica, que aqui vão dos lápis de cor da pré-adolescência aos traços fluídos e curvilíneos das canetas hidrocor que tenho usado em minha última série abstrata.

Observação: Como sou péssimo copista e observador indisciplinado todas a figuras humanas nos desenhos são criações da minha cabeça, sejam as transex e travestis (retratadas do 3º ao 6º desenho que compõem uma série), ou os homens nús (8º e 9º), bem como as restantes. Quem sabe todas elas juntas formem um autorretrato, os psicólogos e entendidos que quiserem analisar fiquem à vontade, no meu caso acho que nem Freud explica, e eu nem quero saber o que significam...
















terça-feira, 25 de agosto de 2015

MOSTRAR PARA NÃO PERDER - PARTE 4

 Melhor do que mostrar o que fiz é revelar também o que estou fazendo,  e por tal logo abaixo estão as minhas mais novas imagens, clicadas e tratadas recentemente, semelhantes à algumas da postagem inicial desta série, todas foram clicadas na minha casa, desta vez aqui em  Santa Cruz do Sul,  como num parto natural  nasceram no aconchego do lar, e como se fossem filhos e filhas não as criei pra mim, mas para o mundo, e nessa ideia quero sugerir para quem vier a olhar as recém-nascidas que se manifeste, afinal imagens ( e pessoas ) inertes não servem de nada.
 Depois de longos anos escondendo muito do que fazia temendo as críticas percebi que a pior delas é a indiferença (#clichê), e neste momento de profunda criação e reflexão, estou aberto a qualquer feedback, porque tudo é aprendizado, certamente não vou agradar a muitos, mas o que me interessa é justamente este desagrado, o que tem neste olhar  de diferente? 
Hipocrisias à parte, se achasse o meu trabalho ruim não o mostraria, e justamente por isso a opinião não elogiosa é tão necessária quanto os parabéns, o equilíbrio é fundamental em tudo, e saber ouvir é um bom caminho até ele.

Vale aqui reiterar: 
1- Críticas vazias são desrespeito, e principalmente perda de tempo, de quem faz e de quem recebe.
2- Elogios em excesso são adulação, uma afetação irritante e principalmente falsidade.
3- O que eu espero são opiniões, simples, diretas, sinceras e respeitosas.

É o que tem pra hoje...













quinta-feira, 20 de agosto de 2015

MOSTRAR PARA NÃO PERDER - PARTE 3

 Ah! O sul... Tão controverso quanto amar é a minha relação com o Rio Grande, vim parar por estas bandas por tão nobre sentimento, por mim, por alguém especial e pela falta dele na baixada Cuiabana.  Nunca antes vivi transformações tão intensas  como aqui nas terras gaúchas, nunca me prendi tanto a uma rotina exaustiva de trabalho por pura necessidade, nunca passei tanto tempo recluso de amigos e familiares, mas também nunca fui tão livre, não existem mais desculpas, meus pais não interferem em nada mais na minha vida pessoal, ninguém me obriga a nada, se estudo, trabalho ou fico prostrado na cama ninguém mais se importa, sempre é só uma questão de escolhas, de contas à pagar e uma vida (minha vida!) para construir. 
 Seja na agitada e paulistana Porto Alegre, que com seus tons ocre, um ar de tradicionalismo meio fajuto, que ainda me fazem sentir vivo (e bem), aquela gente toda nas vielas do centro histórico, os espremidos sobrados ecléticos, que como pérolas sujas, se misturam à concretude da modernidade pretensa e deturpada dos novos e velhos espigões, ou talvez na acolhida fria  e desconfiada das calçadas de arenito  vermelho de Santa Cruz do Sul, acolhida que timidamente se aquece, com uns sorrisos de boca fechada e a companhia de outros desajustados como eu, que mais parecem forasteiros em sua terra natal. Ainda há Candelária, Rio Pardo que já visitei, e tantos outros recantos que a janela do ônibus me leva a querer visitar, mas a carteira e o banco de horas do trabalho me impedem. 
 Registrar tudo isso me levou por vezes  às dores da auto-crítica, que agora sem desculpas não dá para atribuir ao lado de fora  a loucura aqui de dentro. Como todo bom gaúcho o sul se revelou forte, por vezes ríspido, mas sincero, objetivo, esperançoso e confiante, que sabe do valor de seu berço, que não importa o quanto o minuano sopre, a primavera dos ipês sempre chega!


















domingo, 9 de agosto de 2015

MOSTRAR PARA NÃO PERDER - PARTE 2

 Eu nem ia postar isso hoje, mas não resisti, olhar estas imagens me fez lembrar dos dias quentes, estranhos e empolgantes em que fiz estas fotos, era setembro pouco antes do meu aniversário, e aquela seria minha derradeira viagem de trabalho junto ao IPHAN, com a Amélia e o Francisco, visitaríamos as ruínas incríveis da grande catedral inacabada, depois documentaríamos o lastimável estado do palácio dos Capitães Generais, este que nunca fora tão "palaciano" assim. 
 Nos hospedamos no hotel Bela Vila, às margens da rodovia que corta a cidade, um hotel barato, e com baratas, ao menos todas que vi estavam mortas, num pátio pouco acessível, onde uma funcionária cuidava dos sacos de lixo. Do espartano hotel às majestosas ruínas da igreja matriz o sol avermelhado pela fumaça das queimadas dava um ar dramático à aquela paisagem, tão avermelhada quanto abandonada, pois o chão (calçado ou não) estava quase sempre coberto pela poeira vermelha da terra ferruginosa, num acúmulo inclusive sobre algumas paredes, como se todos tivessem desistido de varrer aquela poeira grossa que vinha com o vento quente, e não davam trégua. 
 A 6ª e a 12ª fotos foram tiradas no cemitério da cidade, que encontramos tão abandonado quanto resto, numa composição curiosamente bela, árvores floridas anunciando a primavera, lápides toscas que se confundiam com a ruína do antigo complexo militar que ali existiu, talvez mostrando como o abandono cercou a história daquela cidade, do nascimento até a morte. Fundada como a primeira capital da província nos idos de 1700, foi abandonada pelos  habitantes ilustres quando o ouro da região escasseou, ficando os negros fugidos ou libertos como o maior contingente da população, todos miseráveis e à própria sorte, tendo a cidade como uma gigantesca migalha deixada por seus senhores fujões.