segunda-feira, 25 de julho de 2016

sábado, 23 de julho de 2016

O TEMPO E A SÃ IDADE





Eu também sou gente, como gente também sou bicho que sente, sentindo o que sinto não posso deixar de pensar, pensando não consigo parar de criar, sempre foi assim desde que me entendi por gente, rabisco logo existo. 

Por perceber um certo exotismo dessa minha existência sempre me questionei sobre minha sanidade, um bom ponteiro que marcava a diferença da liberdade criativa para a loucura era a capacidade de perceber o que eu questionava com meus desenhos, (além da minha sanidade, obviamente) eu sabia (porque sentia) que meus rabiscos não eram aleatórios, ia para o papel o que me tomava, fosse bom ou ruim, quando alguma coisa me forçava a perguntar... Por quê? Mais que a doce acidez da curiosidade infantil ia parar no papel tudo que me indignava, surpreendia, aquelas coisas que por mais costumeiras que fossem, eu sabia, não precisavam ou deviam ser ou estar, assim ou assado.

Nunca tentei interpretar meus desenhos por essa ou aquela abordagem, nunca pretendi me entender, talvez me aceitar e com isso aprender, hoje adulto posso dizer com firmeza que me aceitei como artista, rabiscador intencional, e aprendi (para não mais esquecer) como mandar pro papel o que me toma, e o que tem me tomado é o tempo, este tomei nas mãos, mas que me escapa de vez em quando.
Que tempos são esses que todos nós temos? Estamos todos ao mesmo tempo em um só tempo? Ou cada um está no seu próprio tempo?

Sobre tempo a única coisa que sei é que ele passa, e leva tudo com ele. Um clichê pragmático, afinal, de tudo que é ou está o que não mudará no próximo instante? Talvez todos possam aprender um pouco mais sobre si convivendo com quem já deu muito de sua existência ao tempo, aqueles que sabem bem o que tempo leva e o que ele deixa, mais que idade acumulada, mais que possuidores de qualquer acúmulo, falo de quem se deixou esvaziar e aprendeu a lidar com as ausências, os vazios e os silêncios, falo sobre aprender com quem chegou ao extremo de perder para o tempo a percepção da própria existência, os que são considerados insanos por terem sua lucidez borrada em meio a tantas perdas para o tempo. 

Imagino que uma boa forma de aprender com tal gente é doar um pouco do que temos de melhor, não porque eles precisem ou queiram, mas porque esses seres são mais que bichos enfraquecidos, e eles merecem a reverência de uma bela oferta (que sempre podem declinar, obviamente).
Há poucos dias conheci aqui na cidade onde moro (Sta. Cruz do Sul - RS) a ASAN, a Associação de Auxílio aos Necessitados, um asilo, um espaço em que passei pouco tempo mas me tomou por completo, que me fez drenar muitos questionamentos no papel, mais que isso, me fez questionar por que não usar meus papéis rabiscados para gerar aprendizados neste espaço? Pois quantas vezes na vida realmente nos damos um tempo para observar a passagem do próprio tempo? Em geral, poucas vezes, pois o passado é a pungente denúncia da impermanência, da perda inevitável de qualquer batalha contra o tempo. 

Vivendo nesta cultura ocidental onde somos ensinados a sempre ganhar, a evitar doações e JAMAIS aceitar as perdas (mesmo as inevitáveis), assim, o mais comum é recorrer aos acúmulos como um analgésico à ação do tempo, um paliativo perigoso, que resume em si uma ofuscante mentira, pode tornar um simples tropeço em um salto cego no abismo de fundo seco.
Sinto fortemente que perder também é abrir espaço para criar e criar também é re-existir.